24.6.08

NEGRO AMOR


Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
e não tem mais nada negro amor

A estrada é pra você e o jogo é a indecência
junte tudo que você conseguiu por coincidência
e o pintor de rua que anda só
desenha maluquice em seu lençol
sob seus pés o céu também rachou
e não tem mais nada negro amor

Seus marinheiros mareados abandonam o mar
seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
seu namorado já vai dando o fora
levando os cobertores? E agora?
até o tapete sem você voou
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada...

As pedras do caminho deixe para trás
esqueça os mortos que não levantam mais
o vagabundo esmola pela rua
vestindo a mesma roupa que foi sua
risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor

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7.6.08

ARRASTÃO

Eu cheiro tudo o que nunca te digo. Vai direito para minha garganta. Tudo. Sufocado por espirros, por rajadas de ar, altas dosagens. Ultimamente, tenho tido muito medo de não parar mais. Acabar assim. Ou pior, simplesmente não poder terminar. É preciso saber dar fim as coisas e sou medíocre nisso. Você sustenta essa fraca noção de eternidade que forjei para você. Você a torna possível com essa sua delicadeza e essas suas mãos. Promessas devem ser feitas. É bonito o pacto. A pré-existência. Se o cumprimento é inimaginável, existem saídas para o esquecimento. Por isso, não me esquivo de prometer e me comprometer mesmo quando vejo que já falo da boca fora, engolindo a verdade pelas narinas. Mas nunca na sua frente porque você não aprova essa atitude. Tenho um resto de amor sobrando ainda. Você sabe perfeitamente se aproveitar disso e ignorar aquilo que você não aprova. Você acha que fingir a iminência do fim pode servir como desvio, como escape. Você também é medíocre em terminar as coisas. Ou não quer mesmo terminar, não ainda. Eu não posso. É diferente. Quero mas não posso. Seria uma quebra do meu código. Então me arrasto.