23.8.05

Eu devolvo.

Bem ali, está devolvido.

Um beijo pode ser sim como uma forca.

16.8.05

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia - diz Alejandra.

- Quem?

Ah, não posso te contar tudo. Não posso contar tudo a ninguém.

9.8.05

O que você vai fazer agora que os guarda-chuvas se extinguiram e todo o chocolate do mundo congelou ao pé da minha mesinha de cabeceira? Pense nisso.

Eu vou engolir o choro.

5.8.05

CORRESPONDÊNCIA IMAGINÁRIA III

É alto o preço que estou pagando por ter me refugiado nos seus olhos enquanto acabava de ficar pronta para o mundo.

Por isso, digo: nos vemos qualquer hora, baby. Qualquer dia desses.Quando eu enjoar de coca-cola light, te ligo sem falta. Quando encontrar a figurinha 23 do meu álbum de países incendiados, mando-a pelo correio para você - guarde-a, por favor.

Estou com umas coisas suas aqui, mas não posso devolvê-las. Detestaria viver sem as mãos. Se bem que, talvez, parasse de escrever e sofrer.

Se seus olhos doerem muito, pense em mim. Pense em mim, quando o vidro da janela estiver embaçado por qualquer vapor.

Ah, se você descobrir como se faz para voltar no tempo, nunca se esqueça daqueles cinco dias em Buenos Aires, quando fomos tão felizes e exiladas! Volte até lá e dê uma espiadinha em nós, de mãos dadas.

Ainda mora uma menina em mim que não pára de falar que você é a coisa mais bonita do mundo. Pena que não dou mais tanta atenção a ela.

Agora você pode ir a praia descansada. Não se culpe mais por minha pele tão branca. Esqueça nossos planos de veleiros e África. Esqueça os sequestros e os reencontros alucinados. Esqueça aquela época em que você pintava borboletas e eu queria apenas ficar deitada no seu colo lendo Ligia Fagundes-Telles.Esqueça que eu nunca quis outro lugar. Esqueça que ninguém me ama como você.

Essa é a separação mais necessária da história da humanidade. E ainda assim voltaremos. Voltaremos. Com nosso abraços de milkshake de chocolate e nossos porres de marguerita, é claro que voltaremos. Nós voltaremos porque, qualquer hora dessas, ou eu ou você precisaremos de medula. E isso ainda temos para dar uma a outra, órgãos internos compatíveis.

Se eu ficar com muito medo, vou gritar seu nome mas não se sinta pressionada. Eu grito para dentro, você sabe. Mando minha carta de sucídio para o seu endereço antigo, de qualquer forma.

Não pense que.

Não se afobe não.

MEU SENTIDO DE ARANHA ME MANDA PULAR QUE, EM PLENA QUEDA, ALGUMA COISA VAI ACONTECER - UMA TEIA.


(É porque os grandes começos sempre padecem dessa intensidade cheia de revelações fatais e descrenças no futuro e culpas do passado e vários segredinhos, várias desistências e várias reviravoltas. E apertos contínuos no peito e frêmitos constantes naquele órgão interno de localização não específica que responde pela mania que temos de acreditar que seremos felizes para sempre se nos mudarmos para aquela pintinha castanha naquele pescoço branquinho no qual nosso rosto se encaixa tão perfeitamente.
Nada como os grandes começos. É por isso que os persigo, passando ilesa por tudo mais que, de cara, já não demonstre potencial para avassalador.)

1 - Quando nossas bocas estavam quase se tocando, eu virei o rosto. Virei o corpo todo para o outro lado. Deitadas na mesma cama, sua perna já estava em cima da minha enquanto eu tentava me convencer de que nada ia acontecer.

2 - Tranquei a menina no banheiro da boate, dei cocaína e pedi um beijo. Ela disse não. Me agarrou no meio da boate, instantes depois, e eu fui embora sozinha para me fazer de difícil. Mas nos encontramos na Guanabara e passamos juntas o nosso primeiro grande prêmio de Fórmula I.

3 - Estamos apenas começando agora.


(É porque estou começando a achar que tenho que ir atrás do que quero. Estou começando a largar meu disfarce de larva e minha velocidade de velotrol.)

4 - Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, sussura Uncle Ben.

4.8.05

3: 23 H

Bêbada de sorvete de maracujá, diz a menina de Barcelona.

QUANTAS NOITES NÃO DURMO


Cerveja gelada, quer?

Whisky vinte e um anos, quer?

Se você voltar para casa, eu durmo tranquila. Com a TV ligada.

(O escuro piora a minha tendência paranóica para imaginar o que terá acontecido ao Poltergeist)

Quase nunca sonho. Mas ontem tinha um sonho no meio da minha noite escura. E , advinha! O Flamengo ganhava do líder do campeonato. E o Corinthians vencia tudo, como a Legião Urbana.

Meu estomâgo está muito barulhento. Meu coração está on. Garçon, me traga alguma coisa. Eu sou capaz de fazer qualquer coisa.

Diante de mim, finjo que não durmo.