Vai. Pode dizer.
Fala rápido antes que.
Fala baixo, bem baixo, que não quero ouvir direito. Não quero mesmo.
Mas diz. Pode falar.
Como estão as pontas dos seus dedos?
Dormentes?
As minhas estão. Nem sei mais.
Os desdos dos pés, é claro.
Você sabe do que estou falando.
Não é? Ou.
Esquecer pode não ser uma coisa muito complicada.
Para mim é.
Eu levo anos para esquecer as coisas.
Às vezes, simplesmente, não esqueço nunca.
Por exemplo, você se lembra do que me disse quando tentou me convencer de que sim, que havia outro jeito?
Você disse que. Você me pediu para confiar em você.
Eu confio.
Pode parecer egoísmo, isso tudo.
Pode parecer terrível dizer que não e, ainda assim, insistir.
Mas aceite o fato de que o amor também pode ser puro egoísmo. E isso é péssimo. É verdadeiramente preocupante.
Isso deixa o mundo transtornado.
Confio em você, querida.
Confio em você com meu corpinho de cinco anos. Confio de olhos bem abertos porque você é tão linda que seria um desperdício fechá-los. Confio em você no seu carro inglês, dirigindo habilmente entre os outros, todos esses outros tão desimportantes. Confio em você me enchendo de abacate com açúcar. Confio em você diante dos nossos túmulos. Confio em você me dando a mão para saltar. Confio em você me pedindo para parar. Confio imensamente em você, querida.
Eu realmente te amo.