DÉJÀ VÉCU
Solidão de carnaval, solidão na multidão. Tão clichê, tão bêbada.
Em plena Av. Rio Branco tocou (muito provavelmente apenas dentro da minha cabeça) uma música completamente improvável - uma das minhas músicas. Identifiquei pela introdução de baixo que aprendi a imitar com os dedos e a voz.
Estou exausta quase o tempo todo, mas, principalmente, quando acordo. Durmo mal, sonho demais. Estou aprendendo a usar parênteses e esquecendo como se escreve e diz várias palavras. Minha tireóide não produz mais TSH. Meu corpo já começa a falhar. Meus pés doem e sofro ao levantar da cama. Meus cabelos estão caindo muito. Tenho 26 anos, o que é ridículo. Estou com um enorme peso - o tempo me dá peso e ele passa de maneira aviltante, me sobrecarregando de tudo o que eu quero trucidar.
Eu perdi todos os detalhes.Estou seguindo, como louca, atrás do que ficou para trás de mim. Tenho abundância de reminiscências - no sentido platônico do termo - mas minha memória involuntária é também inútil, não me teletransporta e eu preciso ser teletransportada.
Estou cansada de me despedir de tudo.Vivo da sensação de já haver estado em um lugar, quando isso, na realidade, não aconteceu. Todo mundo me diz o contrário.
Quando aconteceu?
Há muito tempo, aconteceu.
Há muito tempo as coisas não eram assim.